sábado, 6 de junho de 2009

Liberdade?

Ele tem flertado com a mediocridade. Passeios no shopping, sexozinho nos fins de semana, e sono, muito sono. Logo estará vendo televisão. Tudo por causa de uma dessas mulheres de ancas largas e gestos delicados. Ela já sabe os nomes que vai dar aos filhos. Ele ainda quer escrever um livro. Mas alguma coisa no seu corpo, algo além da queda de cabelos, vai conciliando o futuro com uma gravata e uma carteira assinada. Os sonhos que restam vão morrendo a cada orgasmo. Aos poucos ele vai descobrindo que nunca quis ser livre. Queria apenas alguém com quem dividir a cela. As mesmas paredes que antes o oprimiam formam agora um refúgio contra a desordem cansativa do mundo. E desde que a doce morena permaneça ali dentro, desde que ela o envolva nos seus braços macios, desde que ela sorria brancura e morda prazer, aquele espaço exíguo não será mais uma prisão, mas simplesmente o seu lar. Para que ser livre, se a busca terminou? Uma mulher para dividir a cama, uma janela para olhar as estrelas, uma madrugada para escrever versos medíocres, eis a súbita descoberta: tudo isso é muito melhor que a liberdade.