Babás e bonecas
1
Quando os primeiros andróides começaram a chegar ao mercado, eu tinha acabado de me divorciar, e comprei um modelo Garota Sexy para me divertir. Foi uma ótima compra. A andróide me relaxava de várias formas, não falava em filho, não ficava reclamando da vida, nem sequer me pedia para tomar banho. Quando eu dormia, ela ia se recarregar, e a gente não tinha muito tempo para se desentender.
Vivi um período de enorme alegria. Me tornei mais produtivo no trabalho, parei de me aborrecer com pequenos detalhes. Acho que fui simplesmente feliz.
Alguns anos depois, meu filho fez dez anos, e minha ex-mulher mandou ele morar comigo. Pensei em vender minha andróide sexy e comprar uma andróide babá, mas logo descobri que isso era inviável. As robôs babás eram muito mais caras. Segundo os vendedores, elas gastavam mais energia e exigiam um software muito mais complexo.
Passei alguns dias muito mal, pensando que ia ter que suportar meu filho. Ele não parava quieto, ligava música ou televisão na maior altura, não sabia cozinhar, não sabia arrumar a casa, e ainda não conseguia passar o uniforme da escola.
Eu já estava tremendamente estressado quando uns amigos me contaram que havia uns técnicos no centro que consertavam andróides sem autorização do fabricante. Cogitei que um deles saberia como copiar o software de uma robô babá e instalá-lo numa andróide sexy. Não devia ser tão difícil. Se é possível trocar o sistema operacional de um computador, com um andróide não deve ser muito diferente.
Num dia de folga, peguei a Dêise e fui para o centro em busca de informação. Encontrei um gordinho simpático que faria esse trabalho por um preço razoável. Quando alguém viesse consertar uma babá, ele clonaria o software dela, depois passaria para a Dêise. Ele disse que entraria em contato, assim que pintasse uma babá para ser consertada.
Em poucas semanas o trabalho estava feito. Dêise agora não me chamava de garotão, não fazia gestos sensuais, não tirava a roupa de forma lenta e provocante, não gemia gostoso quando ficava por cima, medindo com precisão os movimentos e a força do quadril. Mas sabia cozinhar, passar roupa, arrumar a casa, e sobretudo falar certas frases para o garoto; frases que estimulavam o aprimoramento moral e o uso cauteloso das palavras. Confesso que tive um pouco de pena do rapaz, mas eu sentia que aquilo era necessário. Agora eu podia dormir de noite. Ela o mandava desligar a televisão, e chegava a desligá-la pessoalmente quando ele se recusava.
Voltei a dormir melhor. Saía para dar uma arejada nos fins de semana. Pensei até em arranjar uma namorada.
2
Um dia eu estava no trabalho e recebi um estranho telefonema. Minha Unidade Autônoma de Serviço Doméstico tinha prestado queixa à polícia. Parece que meu filho havia tentado molestá-la, e chegou a pedir que ela mostrasse as partes íntimas. Fiquei confuso. Não sabia se ficava feliz pelo meu filho ou se deveria temer as consequências.
Mais tarde passei na delegacia e descobri que a coisa não era tão grave. O garoto ia ter que comparecer a um auditório da polícia e ouvir umas palestras sobre como se portar diante das mulheres. Naturalmente, protestei, dizendo que a babá eletrônica não era uma mulher de verdade. O oficial disse que, nesse caso, as coisas se equivaliam, pois se fosse uma mulher, esse tipo de ato também geraria a possibilidade de queixa. E acrescentou que, quando o rapaz fosse maior de dezoito, seria melhor eu comprar uma Modelo Sexy. Ele poderia até ser preso por fazer certas coisas com andróides babás. Estava na lei: a andróide comprada para trabalho deve exercer somente as funções do trabalho para o qual foi comprada. Exigir o contrário era violar a Política Nacional de Andróides.
Acabei concordando, voltei para a casa e expliquei as coisas ao garoto. Tentei bancar o pai compreensivo. Disse que ele tinha agido normalmente, mas precisava se aprimorar, saber escolher a pessoa e as palavras certas, para obter o que estava buscando.
Dias depois decidi vender a babá. Percebi que eu corria o risco de ser multado, ou até preso, por ter um artefato ilegal em casa. Tive que conversar com o garoto, ensiná-lo a passar roupa, a cozinhar. Tive ainda que abordar o difícil assunto dos horários e do volume da TV. A babá eletrônica, no fim das contas, não serviu para muita coisa.
Mas sinto que minha alegria poderá voltar. As andróides sensuais estão evoluindo rapidamente. Agora há mais opções de cabelo e cor de pele. Os anúncios dizem que elas estão tão inteligentes que já podem até ser levadas para jantar. Meu filho vai fazer dezesseis anos e acho que vou mandar ele estudar em outra cidade. Minha saúde e meus pequenos prazeres de adulto, graças à tecnologia, em breve voltarão ao normal.